sexta-feira, 24 de julho de 2009

Parte I - Uma noite quente de 1994




Não lembro o mês, tão pouco o dia, mas sei que foi no ano de 1994, estava muito quente, isso eu lembro, era meu primeiro ano estudando no período noturno e naquele dia em vez de entrar para assistir aula, fui jogar futebol na quadra que fica na praça, ao lado da escola, na rua de cima da favela.
Era meu segundo ano naquela escola, Escola Municipal Henrique Mélega, na Vila Primavera zona leste de São Paulo. Conhecia um rapaz era alguns anos mais velho que eu, era um amigo, gostava de mim e eu dele, mesmo em se tratando de uma amizade recente.
Eu sabia que ele era envolvido com drogas e mesmo assim eu admirava-o muito, ele trabalhava, usava roupas legais, ficava com muitas garotas, tocava instrumentos musicais, jogava muito bem futebol e principalmente, era respeitado pelos demais garotos.
Comecei a andar com ele e fui aceito por ele, sempre estávamos juntos até que nesta noite ele me apresentou aquilo que seria a maior “paixão” da minha vida; a droga.
Era um saquinho azul que ele abriu e preparou em cima de uma ripa de caixa de feira, dessas que se coloca frutas, isso aconteceu exatamente no centro da quadra, ao ar livre estava razoavelmente vazio e as poucas pessoas que lá estavam não pareciam se importar com a cena, na realidade não fomos importunados por ninguém.
Esse rapaz estava acompanhado de outro e os dois preparavam a droga e riam muito, eu pensei que eles estavam de brincadeira, que aquilo não era droga, pensei que fosse uma espécie de pegadinha, mas eles insistiram dizendo que era droga e que era muito legal e que eu tinha que experimentar. Pedi que um deles usasse também, mas eles disseram que aquela era especial para mim.
Fui convencido, mas antes de ingerir a tal substancia deixei bem claro seria a primeira e ultima vez que faria uso daquilo. Eles concordaram que seria só para eu conhecer, assim fiz uso de droga pela primeira vez com muita tranqüilidade, pois tinha a certeza que seria apenas para conhecer e nunca mais voltaria a usá-la.
Parece que o mundo parou naquele momento, o gosto não era muito agradável, era forte, lembro ter dito “não estou sentindo nada”, mas estava, estava me sentindo bem, coração disparado, vontade de correr, mas não era medo, era energia, estava com tanta energia que tinha que extravasar. Joguei muito futebol aquela noite, suei muito também, fui para casa contando a um amigo o que havia acontecido e ele falará que tinha notado que estava diferente e realmente eu estava.
Cheguei em minha casa e entrei sorrateiramente já havia passado das 23hrs, tomei um banho, um copo de leite e deitei, ninguém em casa notou o que estava acontecendo, não consegui dormir aquela noite, mas estava me sentindo bem, não havia motivo para preocupação e em minha consciência eu repetia “nunca mais farei isto, foi só para experimentar!”.