sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

BLOG: AMANDO UM DEPENDENTE QUÍMICO

Pessoal minha esposa me apresentou este blog, é de uma mulher chamada Polyanna que é esposa de um dependente químico como eu.

O blog dele é maravilhoso, lá ela compartilha sua experiência como esposa de um dependente químico. É uma lição de fé, esperança e principalmente amor.

Os familiares de dependentes irão encontrar muita ajuda neste blog.

Eu recomendo: www.amandoumdependentequimico.blogspot.com.br

Abraços a todos!


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

OS DESAFIOS DA RECUPERAÇÃO EM FAMÍLIA

Eu e minha esposa passamos este último final de semana na casa da minha mãe. Em um determinado momento fomos ao mercado fazer algumas compras e, em meio ao monte de produtos que fomos comprar estava a droga líquida e lícita que é aceita pela sociedade em geral. Alguns membros da minha família consomem esta droga que quase destruiu minha vida, para eles é algo normal que aparentemente não faz grandes estragos, mas para mim representa dor, desesperança, compulsão, obsessão e tudo mais que a droga representa. 

Em outras palavras, eles podem, EU NÃO!

Com muita naturalidade minha mãe me pediu para eu pegar dois fardos desta droga e colocá-los no carrinho. Fiz sem reclamar, me senti mal, incomodado e apesar dos mais de sete anos limpo, senti vontade de usar aquela droga. Não usei, continuo limpo só por hoje!

Fiquei refletindo sobre esta experiência e cheguei a conclusão que em alguns momentos a família que tanto nos ama, atrapalha nossa recuperação. Não só por colocar em nossas mãos aquilo que deve ser o primeiro item da lista de “evites” de um recuperando, como aconteceu comigo naquele mercado, mas por outros dois aspectos que vou comentar um pouco:

Primeiro Aspecto: Esquecem-se que a adicção é uma doença incurável.

Não precisa de muito tempo para que os familiares “esqueçam” que o recuperando tem uma doença relacionada ao uso de drogas. Basta alguns meses limpo e logo estão bebendo na frente do recuperando, levando-o em festas onde há álcool, ou pedindo para que o recuperando pegue a droga na prateleira do supermercado. É evidente que os familiares não fazem isso por mal, fazem por ignorância, por acreditarem que o álcool representa para o recuperando o mesmo que representa para eles que não tem a doença da adicção. Este é um erro que leva milhares de recuperando a recaírem todos os dias ao redor do mundo.

Os familiares tem que entender que aquela latinha de cerveja representa para o recuperando a maior paixão de sua vida, mesmo que não seja sua droga de preferência é uma substância capaz de alterar o humor ou ânimo, logo é uma droga e com certeza será uma porta de entrada para que o recuperando volte ao uso de sua droga de preferência.

Segundo Aspecto: Não conseguem reconhecer que suas vidas tem muitos problemas além daqueles causados pelo familiar que é viciado.

Um usuário de drogas dentro de um lar tem a capacidade de neutralizar todos os demais problemas dos outros membros da família. Geralmente os problemas causados pelo usuário como furto de eletrodomésticos, agressões, gritaria, sumiços e etc. causam danos a toda família e aparentemente o problema daquela família é exclusivamente o usuário de drogas. Quando este usuário entra em recuperação e pára de se drogar aqueles familiares acreditam que agora suas vidas vão ficar boas e que não terão mais problemas, este é um engano enorme pois continuam com problemas, afinal todas as pessoas tem problemas, mas como sempre tiveram o usuário de drogas como o problema da família, muitos não conseguem enxergar seus próprios problemas.

A partir deste ponto os familiares tem que lidar com seus problemas, suas frustrações e medos. E aí? Não é fácil admitir que também tem seus erros, que não são tão superiores assim ao usuário de drogas, e principalmente, que precisam de ajuda.

Muitos familiares buscam ajuda, em igrejas, grupos de recuperação para familiares, psicólogos e tantos outros meios, mas há aqueles familiares que não conseguem admitir e buscam inconscientemente ter outra vez aquele problema central que encobre os seus problemas. Um usuário dentro de casa.

Pode parecer viagem minha, mas nestes anos de caminhada já vi atitudes de familiares como criar caso porque o recuperando está indo demais ao grupo ou a igreja, essas são defesas inconscientes que as pessoas criam para que o recuperando não tenha êxito, pois se ele tiver êxito você terá que lidar com seus problemas e se ele não tiver êxito você irá lidar com os problemas dele que serão tão maiores que o seu se ele voltar a usar drogas que os encobrirão.

É mais fácil lidar com o problema dos outros do que com o nosso próprio problema!

Pode ser que este texto não faça o menor sentido para você, mas se você se identificou de alguma forma, abra o olho, você pode estar matando aquele a quem você tanto ama!

Particularmente só tenho a agradecer minha família pelo apoio moral e financeiro que sempre me deram para eu frequentar meus lugares de recuperação, eu não vivi o segundo aspecto citado neste texto, porém eu presenciei isso na vida de alguns companheiros.

Fim

Após dois anos longe das postagens fico muito feliz por essa inspiração repentina nesta quente sexta-feira 13, espero escrever mais ao longo de 2014.

Que a Graça do Senhor Jesus meu Deus, seja com todos que lerem este blog.

Leiam, comentem e divulguem... abraços!!!


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

HOJE É UM DIA ESPECIAL!

Há cinco anos, este era meu primeiro dia limpo, como eu tinha um longo histórico de recaídas, jamais iria acreditar que conseguiria ficar cinco anos limpo. Glória a Deus tenho ficado limpo um dia de cada vez, e de uns tempos para cá, além de limpo, estou feliz!
Não sou um exemplo de recuperação, não sou um passólogo (teólogo dos 12 passos), também não sou um cristão exemplar, mas estar limpo há cinco anos não caiu do céu, algumas coisas tenho feito com muita disciplina, são elas:

EVITAR LUGARES QUE ME REMETAM AO PASSADO;
EVITAR PESSOAS QUE ME REMETAM AO PASSADO;
EVITAR HÁBITOS DO TEMPO EM QUE ERA UM DROGADO;
E PRINCIPALMENTE, EVITAR A PRIMEIRA DOSE E O PRIMEIRO GOLE!

Para mim, esta é a única forma de ficar limpo!

NÃO USE, HAJA O QUE HOUVER!

Para terminar, farei uma citação de uma letra da Banda Resgate:


"Foi a loucura que eu nunca pensei
Foi a surpresa que eu sempre esperei
Te encontrar foi mais que nascer
Foi matar o mal que tentou me vencer"


sexta-feira, 24 de junho de 2011

MARCAS DE UM RECAÍDO

Quando entrei pela primeira vez em uma entidade de auxílio a usuários de drogas, estava muito confuso, não tinha qualquer domínio sobre a vontade de usar drogas, todas as áreas de minha vida haviam virado de ponta cabeça e não tinha a mínima ideia de como reverter esta situação. Nesta época já fazia algum tempo que tinha a consciência que havia algo errado comigo, que meu estilo de vida não era normal, ter essa consciência, já era um grande passo, mas apesar de saber que tinha um problema, não fazia ideia do tamanho do problema, pois pensava que assim que buscasse ajuda, iria conseguir para de usar, infelizmente, estava enganado.

Era dezembro de 1997, fui levado pela minha mãe neste lugar onde ajudavam drogados, apesar de ter sido levado por minha mãe, não fui forçado, queria mesmo mudar de vida, a forma como vivia não era boa e estava sofrendo muito. Fui bem recebido no grupo, as pessoas me compreendiam não me repreenderam e tão pouco me trataram como um errante, trataram-me apenas como um ser-humano doente que necessitava de ajuda, foi tudo muito lindo, havia cinco pessoas no grupo além de mim, todos tinham o mesmo problema que eu, mas com uma diferença, eles estavam limpos (sem usar drogas).

Gostei muito do grupo e das pessoas, resolvi fazer parte e comecei a frequentar as reuniões, consegui ficar 11 dias limpo, mas voltei ao uso, lembro-me que foi muito triste, pois eu e minha família havíamos criado grande expectativa no sucesso de minha recuperação. Por ironia do destino ou propósito de Deus, o grupo e a boca (ponto de venda de drogas) ficavam na mesma rua (só que já faz uns anos que a polícia fechou aquela boca, o grupo por sua vez continua lá há mais de vinte anos sendo um instrumento de transformação de vidas), lembro-me de ter saído da viela que dava acesso a boca e avistei os companheiros se cumprimentando em frente ao grupo, nesta altura eu já estava sob efeito de drogas, mas estava consciente, aquela visão que tive dos companheiros, foi torturante, bateu um sentimento de culpa e fracasso, ao chegar em casa, minha mãe notou que estava drogado, já fazia muito tempo que não conseguia esconder.

Como desejava mudar de vida e parar com as drogas, voltei ao grupo admitindo a recaída (como sempre admiti), os companheiros me reanimaram a continuar buscando recuperação, fiquei no grupo, participando das reuniões me envolvendo com a entidade até que em menos de um mês, lá estava eu, fazendo aquilo que sabia fazer de “melhor”, usando drogas. Até que em fevereiro do ano seguinte fui internado em um sítio, uma comunidade terapêutica especializada na recuperação da dependência química, para homens.

Neste lugar, reencontrei-me com a vida, comecei a entender sobre a doença da dependência química e aprender a utilizar algumas ferramentas que seriam indispensáveis na recuperação, aprendi que necessitava admitir que tinha um problema mais forte que eu e que sozinho não conseguiria, aprendi que Deus não é um ser folclórico ou meramente mítico, mas Real, Amantíssimo e Presente, que se importava comigo e iria me ajudar, para isso eu necessitava entregar minha vida e vontade em Suas mãos, não tinha que aprender teologia, apenas conhecer alguns princípios de vida como honestidade com meus sentimentos, mente aberta para receber as ajudas e boa vontade para coloca-las em prática e ainda, se não entendesse algo, teria que pedir ajuda para colocar em prática e não deixar de lado como estava acostumado a fazer com as coisas que julgava ser difícil de realizar.

Permaneci lá, aprendendo estes princípios, me relacionando com meus iguais, trabalhando na roça ou na cozinha, lavando banheiro que mais de trinta homens utilizavam, lavando minha própria roupa na mão e principalmente regando uma semente muito especial que não sabia que havia em mim, a semente da esperança! Esta internação durou quase cinco meses.

Após a internação tentei fazer a coisa certa, trabalhava, ia as reuniões todos os dias, participava das atividades no grupo e completei sete meses limpo, mas não passou disso. 

Apesar de estar aparentemente envolvido com a recuperação, minha alma ansiava por droga, pensava em droga todo dia, imaginava-me drogado, sentia a droga entrando em meu corpo, dominando minha mente, isso tudo subconscientemente, havia passado os últimos anos da minha vida usando drogas, passei a transição da adolescência à juventude me apoiando nesta muleta, agora não tinha mais a muleta, e me sentia inadequado em relação à vida, era muito difícil viver sem drogas.

Após esta recaída as pessoas começavam a me olhar com certa desconfiança, até no grupo havia alguns (minoria) que me discriminavam, sempre davam indiretas, as vezes davam diretas, lembro-me de um companheiro de grupo ter dito para mim e na frente de umas dez pessoas, que não gostava de companheiro recaído. Foram muitas recaídas, passei anos ficando alguns meses limpo e recaindo, alguns diziam que meu tempo limpo tinha prazo de validade.

E o pior, a cada recaída, era como se eu cavasse um pouco mais o fundo do poço que era minha vida, meu organismo não suportava como antes, nos primeiros anos de drogadição, lembro que usava muita droga, todos os dias, virava a noite me drogando e trabalhava normalmente no dia seguinte, não passava mal, mas a cada recaída usava menos quantidade e ficava pior, pouca quantidade de droga já me deixa mal, tinha que ser levado ao hospital, ficava horas no soro com Plasil e Diazepan por exemplo.

Em total desespero, comecei a procurar religiões e entidades diversas de apoio a qualquer coisa, a fim de dar um basta no meu problema, mas tudo que fazia ou tentava dava certo por alguns meses, mas sempre voltava ao uso, era a mesma história só que escrita com caneta diferente.

Até que em 5/9/2006 usei drogas pela última vez!

Aquele dia pensei que iria morrer, muitas vezes eu pensei que iria morrer, mas aquele dia foi diferente, fui levado ao hospital por um grande amigo, um dos que sempre acreditaram em minha recuperação (assim como meus familiares), fui medicado mas meu corpo não reagia, meu peito doía muito ao respirar e mal conseguia andar, fiquei assim por uns três dias. Mas o pior não era o físico, era o emocional, tinha certeza que não me recuperaria, que iria morrer usando drogas.

Passaram alguns meses e parecia que a história iria a se repetir, lembro como se fosse hoje, estava dirigindo, e senti uma vontade enorme de usar, pesei “meu destino é morrer usando essa porcaria”, mas aconteceu algo sobrenatural naquele momento, senti um conforto muito grande e uma Paz que excede meu discernimento e capacidade de descrevê-la, sei que Deus, na forma como eu o compreendo (Jesus Cristo), tocou minha alma, ali, sem grupo, sem companheiro, sem oração, sem louvor, sem pastor, sem terapeuta, sem concentração, no carro, dirigindo, senti o Amor de Deus sobre mim e Sua voz doce e carinhosa dizer “Você não precisa mais disso, você tem a Mim, e isso lhe basta”.

Para finalizar, se passaram quase nove anos do momento em que entrei em um grupo pela primeira vez, até o momento em que usei drogas pela última vez, é muito tempo recaindo, por isso não posso culpar os que deixaram de acreditar em mim, mas eu aprendi com minha própria história de vida que não devo deixar de acreditar em ninguém, talvez você que está lendo este testemunho esteja em situação semelhante, talvez você já tenha pisado tanto na bola que ninguém mais acredita em você, quero que saiba que eu acredito em você, mesmo sem te conhecer, eu acredito que você vai conseguir que ficará limpo e terá uma vida de vitórias para contar, não desista!

Duas citações para finalizar: “quando a dor de usar, for maior que a dor de não usar, aí ficamos limpos” Livro Azul. “A pedra que os construtores rejeitaram, veio a se tornar a principal pedra angular” Jesus Cristo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

AJUDE-NOS!

Conhece algum grupo, casa de recuperação ou outro local que ofereça vida pós-drogas?

Não deixe de indicar!

Diariamente dezenas de pessoas visitam este blog, sua indicação pode salvar uma vida.

Juntos somos fortes!

Utilize a opção comentários para fazer a indicação.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PARTE III - DEPOIS DA NOITE QUENTE: DOR, DESCONTROLE E MEDO - (clique aqui e leia a partir da parte I)


“O uso de drogas levou-me a uma série de fracassos em todas as áreas de minha vida, o reviver contínuo destes fracassos me afundou em uma realidade de dor, descontrole e medo.”


Quando comecei a usar drogas, não imaginava que isto iria afetar todas as áreas de minha vida, sabia sim que as drogas eram danosas e que destruíam as pessoas, mas tinha uma convicção ignorante que iria controlar o uso e que ao menor sinal de descontrole, frearia o uso, pois julgava ter aquilo que não via nos nóias, a consciência.

Desta forma, posso dizer que meu início de drogadição, foi tranqüilo, sem maiores preocupações. Sem eu perceber, a vida começava a se desenrolar em função da droga.


PRIMEIRO FRACASSO: ESCOLA

Saia para ir à escola (com intenção mesmo de ir à escola), mas mudava meu destino quando via algum colega de vício, costuma dizer “hoje eu nem ia usar”, mas acabava usando.

Eu que nunca fui um aluno exemplar, começava a afundar meus estudos com o excesso de faltas, reprovei por vários anos seguidos, prejudicando não só minha vida estudantil, como o futuro profissional, cheguei a dizer para minha família que estava em uma série, quando na realidade estava em uma anterior, sou de uma família que valoriza a educação, por isso, não pude sustentar essa mentira por muito tempo. Não demorou e parei de estudar, sem completar se quer o ensino fundamental.


SEGUNDO FRACASSO: FAMÍLIA (o que mais dói)

A família se defende como pode, e uma defesa, é não enxergar o problema, soma-se a isso uma personalidade extremamente dissimuladora que se adquiri facilmente com o uso de drogas e o dependente consegue ficar alguns anos sem ser descoberto pelos familiares, o que só agrava o problema, já que a família é peça importante na recuperação, o que não significa que um dependente sem família está condenado a morte, pois um grupo ou mesmo uma comunidade/igreja pode assumir o papel da família na vida de um solitário. É bom lembrar que o responsável pela recuperação é o recuperando!

Com o fracasso na escola, o ambiente em casa começou a ficar insuportável, brigas passaram a ser constantes, comecei a chegar de madrugada e já não era apenas nos finais de semana, era quase todo dia, meus pais ficavam rodando pelo bairro a minha procura, mas eles nunca iam me encontrar, pois geralmente, estava dentro da favela, onde não imaginavam que seu filho poderia estar. No outro dia, seguiam eles ao trabalho sem terem dormido a noite anterior, uma situação triste, mas a esta altura, meus sentimentos já estavam cauterizados, eu não me importava, contanto que tivesse a droga, estava tudo bem!

Não dá para falar tudo a que submeti minha família, não tenho estômago, quase os destruí, hoje não carrego mais o sentimento de culpa já que tenho entendimento que se trata de uma doença, e não escolhi ter essa doença, é importante dizer que não sou responsável pela doença da dependência química, mas sou responsável pela recuperação, da mesma forma que uma pessoa não pode se culpar por ter diabetes, mas tem que ser responsável por tomar os remédios e evitar certos alimentos.


TERCEIRO FRACASSO: TRABALHO

Como minha dedicação primordial era a droga, não sobrava muito tempo para trabalhar, mas eu precisava, por dois motivos: amenizar minha situação em casa, e ter recursos (mesmo que insuficientes) para usar drogas. Arrumei um emprego perfeito, trabalhava quatro horas por dia, e tinha duas folgas na semana, logo tinha tempo para trabalhar, usar drogas e ainda descansava um pouco, minha internação foi bem nesta época.

Se por um lado não tinha qualificação para conseguir um emprego melhor, por outro, não tinha interesse em abrir mão da carga horária que favorecia meu estilo de vida. Meus empregos posteriores sempre tiveram essa característica: baixa carga horária - fiquei uns quatro anos em uma atividade onde trabalhava no máximo oito meses por ano.

Você deve estar se perguntado, se trabalhava pouco e ganhava na mesma proporção, como mantinha o vício? Além de destinar toda a renda de minhas atividades profissionais ao uso, eu roubava muito a minha família, muito mesmo, não posso quantificar, mas é mais que muito pai de família ganha no Brasil, além disso, em alguns momentos desenvolvi outras práticas que me davam algum recurso.


QUARTO FRACASSO: RELACIONAMENTO AMOROSO

Antes de começar a usar drogas, posso dizer que fui um adolescente que possuía certa facilidade em conquistar garotas, não era nada sério, até por que isso foi antes dos 15 anos, mas sempre ficava com garotas nesta época, eram apenas beijos, não havia envolvimento íntimo (graças a Deus, pois não é bom um adolescente ter esse tipo de envolvimento), depois do vício, passei a não me interessar mais pelas garotas, eu continuava gostando de garotas, continuava sendo atraído, mas não tinha tempo, dinheiro e nada mais que atraísse uma mulher, afinal, era só chutar um balde de lixo, que saia homens mais interessantes que eu na época das drogas.

Meu primeiro namoro sério, só aconteceu depois dos 20 anos quando estava em recuperação, porém depois de algumas recaídas, ela não agüentou e me largou, para falar a verdade, essa moça agüentou demais, submeti a muitas situações tristes e perigosas.

Usava-a para encobrir minha drogadição, muitas vezes usava drogas a noite toda e passava na casa dela pela manhã, pegava-a e levava para minha casa, assim todos pensavam que havia passado a noite com ela e não me drogando, deitávamos na cama e ficava lá, na nóia sem conseguir pregar o olho e ela alternando choro, orações e cochilos.

Muitas vezes levava-a a favela, a deixava em frente da favela enquanto eu descia as vielas atrás do traficante, a moça ficava largada a sorte em frente a uma favela em plena zona leste de São Paulo de madrugada.

Outras vezes, íamos ao motel, e em vez de fazer sexo, eu usava drogas, e drogado, não fazia nada além de ficar olhando por baixo da porta, ou com o ouvido na parede, imaginando a polícia chegando ou mesmo minha mãe indo para arrombar a porta do quarto e me pegar.

Sem contar que usei muita droga com o dinheiro dela, essa mulher me amou de verdade para agüentar essa situação tanto tempo, eu só amava a droga. Depois que fiquei limpo, procurei essa moça, todo feliz disse que estava limpo há mais de um ano e que havia me matriculado na faculdade e queria reparar todo mal. Ela me disse que estava feliz por mim e disse que já estava formada (é bem mais nova que eu) e já tinha um homem que estava reparando todo o mal que eu havia lhe causado. Não tem jeito, plantou, colheu!



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PARTE II - DEPOIS DA NOITE QUENTE (clique aqui para ler parte I)


Depois daquela noite quente de 1994, minha vida nunca mais foi a mesma...
Havia prometido a mim mesmo que experimentara a droga apenas para conhecer, e que jamais tornaria a usar aquela substancia, estava disposto a não usar drogas nunca mais, deixei isso bem claro ao W (rapaz que me iniciou no vício), ele concordou com um sorriso de canto de boca. E a vida seguiu como se nada tivesse acontecido!

Passados alguns dias, estava andando com o W, no mesmo local onde havia usado pela primeira vez, encontramos um rapaz, que não lembro nem nome, nem feição, este preparava droga para o uso, era amigo do W, parecia que gozavam de certa intimidade, W fez as cerimônias apresentando-me ao rapaz, que tranquilamente continuou com ritual do preparo da droga, batendo papo conosco despreocupado com o mundo ao seu redor, e com o fato de estar lidando com substância proibida em plena praça pública.

Eu estava observando o preparo da droga, e pouco dava atenção a conversa. Vi que ele preparou uma, duas, três porções iguais da droga, senti um gelo no corpo e as pernas bambearam, pensei: “Vão querer que eu use!”, “Mas não usarei, foi só uma vez para conhecer e nada mais”.

Quando as três porções ficaram prontas, a conversa cessou, o silêncio de alguns segundos, só foi quebrado pelo barulho baixinho da ingestão da droga.
O rapaz, dono da droga usou primeiro, depois foi o W, este, ao terminar, estendeu as duas mãos em minha direção, em uma das mãos estava um pequeno recipiente com a droga, na outra um objeto para ingestão da mesma.
Recusei de pronto, disse que não usava drogas, que só havia experimentado para conhecer, e que...

Meu discurso fora interrompido, e passei a ser constrangido a usar, diziam que não tinha nada a ver e que eu poderia usar sem medo, que todo mundo usava e que não fazia mal, era só eu saber a hora de parar...

Usei pela segunda vez... Nesta época, tinha 15 anos!

Jovem, inteligente, bem criado por uma família estruturada e maravilhosa, agora, fisgado pela droga!